O Pirata da Perna de Pau, de quem ninguém sabe bem a idade, vive quase
sempre no mar, num barco pirata, como comandante de um grupo que saqueia e
pilha outros navios para obter riquezas e poder.
É um personagem de aspeto arrepiante, amputado de mão e perna, com a
morte ou a incapacidade a rondar por perto, como abutres em carniça putrefacta.
De rosto feio e grosseiro, repleto de barba ruiva, farta e eriçada, pala
no olho esquerdo, recordação de uma batalha sangrenta, olho direito
semicerrado, ameaçador, bigode e sobrancelhas farfalhudas, boca e dentadura
enormes, falho de um ou outro dente, orelhas enormes com grandes brincos
dourados, nariz adunco a lembrar o bico da sua inseparável arara de olhar
desconfiado como o dono, com três belas e coloridas penas no cocuruto, e uma
arrebitada na cauda.
A cabeça, grande, coberta por chapéu azul-marinho, em forma de
semicírculo, debruado a dourado, como convém, com o desenho de uma caveira
branca sobre dois ossos cruzados, para que ninguém ouse esquecer a sua
arrepiante figura de matador dos mares!
A barriga sobressai sobre as “pernas” curtas, gancho em vez da mão
direita perdida, por certo, num duelo sanguinário e a que um audaz cozinheiro,
artista talhante de qualquer osso ou carne, se tornou cirurgião, que mesmo
inexperiente, lhe salvou a vida, amputando-lhe o membro com sucesso.
Na mão sobrante, a esquerda, um sabre erguido, em posição de ataque, já
de lâmina carcomida pelos muitos corpos rasgados, mutilados, ou mortos,
espalhados pelo convés do navio coberto de cebo, sangue e suor. A perna
esquerda, de pau, um substituto para a perna em falta, revelador de ato
marginal em dia de falta de sorte… farda de capitão dos mares, casaco azul-marinho
com galões e botões dourados, traçado por cinto preto largo com fivela de metal
revestido a folha de ouro, ganha numa daquelas escaramuças vulgares entre
homens do mesmo ofício. Calças castanhas de burel, bota de couro negro,
robusta, de rasto grosso e resistente às caminhadas truculentas de um pirata.
Não gostaria de encontrar, em situação alguma, uma tal figura horrenda,
com atitudes temidas por todos os que têm de atravessar os mares em trabalho ou
lazer.
Ermelinda Bordonhos
Sem comentários:
Enviar um comentário