sexta-feira, 16 de maio de 2014

RETRATO FÍSICO e PSICOLÓGICO

























O Pirata da Perna de Pau, de quem ninguém sabe bem a idade, vive quase sempre no mar, num barco pirata, como comandante de um grupo que saqueia e pilha outros navios para obter riquezas e poder. 
É um personagem de aspeto arrepiante, amputado de mão e perna, com a morte ou a incapacidade a rondar por perto, como abutres em carniça putrefacta.
De rosto feio e grosseiro, repleto de barba ruiva, farta e eriçada, pala no olho esquerdo, recordação de uma batalha sangrenta, olho direito semicerrado, ameaçador, bigode e sobrancelhas farfalhudas, boca e dentadura enormes, falho de um ou outro dente, orelhas enormes com grandes brincos dourados, nariz adunco a lembrar o bico da sua inseparável arara de olhar desconfiado como o dono, com três belas e coloridas penas no cocuruto, e uma arrebitada na cauda.
A cabeça, grande, coberta por chapéu azul-marinho, em forma de semicírculo, debruado a dourado, como convém, com o desenho de uma caveira branca sobre dois ossos cruzados, para que ninguém ouse esquecer a sua arrepiante figura de matador dos mares!
A barriga sobressai sobre as “pernas” curtas, gancho em vez da mão direita perdida, por certo, num duelo sanguinário e a que um audaz cozinheiro, artista talhante de qualquer osso ou carne, se tornou cirurgião, que mesmo inexperiente, lhe salvou a vida, amputando-lhe o membro com sucesso.  
Na mão sobrante, a esquerda, um sabre erguido, em posição de ataque, já de lâmina carcomida pelos muitos corpos rasgados, mutilados, ou mortos, espalhados pelo convés do navio coberto de cebo, sangue e suor. A perna esquerda, de pau, um substituto para a perna em falta, revelador de ato marginal em dia de falta de sorte… farda de capitão dos mares, casaco azul-marinho com galões e botões dourados, traçado por cinto preto largo com fivela de metal revestido a folha de ouro, ganha numa daquelas escaramuças vulgares entre homens do mesmo ofício. Calças castanhas de burel, bota de couro negro, robusta, de rasto grosso e resistente às caminhadas truculentas de um pirata.
Não gostaria de encontrar, em situação alguma, uma tal figura horrenda, com atitudes temidas por todos os que têm de atravessar os mares em trabalho ou lazer.  

Ermelinda Bordonhos

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